quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Era uma vez um elefante que se equilibrava por um fio...


Este texto foi escrito por Paulo Ormindo Azevedo, Conselheiro do Conselho Nacional de Política Cultural, arquiteto, Professor Doutor da Universidade Federal da Bahia, especialista em Patrimônio Imaterial.No dia 17 de novembro foi lido diante dos Ministros da Cultura, Juca Ferreira e do Meio Ambiente, Carlos Minc.

clicar na imagem para aumentar...
eu não sei como publicar nada scaneado com tamanho maior... quem souber me ensine...
ah! este texto pode e deve ser espalhado aos 4 cantos

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Carta aos Ministros

Amanhã, dia 17 de novembro vou entregar aos Ministros da Cultura e do Meio Ambiente esta carta que vai assinada por todos os Conselheiros do Conselho Nacional de Política Cultural.
segue o texto:
O Conselho Nacional de Política Cultural, reunido em sua 8a reunião ordinária, em 17 de novembro de 2009, tendo presente que:
1 – a atividade circense, em todo o mundo, está intimamente ligada à participação de animais;
2 – seu fazer se constitui numa inequívoca manifestação do patrimônio imaterial dos países onde se desenvolve, notadamente no Brasil;
3 – o uso de animais carece, por outro lado, de regulamentação que lhes assegure adequada proteção ,
vem solicitar aos Ilmos. Srs. Ministros da Cultura e do Meio Ambiente a constituição de um Grupo de Trabalho com representação do IPHAN, FUNARTE, IBAMA e profissionais da área do circo, para exame multidisciplinar do tema, com vistas ao encontro de uma relação que atenda à continuidade da arte circense, proteja os animais e garanta a segurança do público.

A luta contra o preconceito e a difamação continua.....
estamos ganhando apoios muito importantes!
e Viva o Centro de Memória do Circo que foi inaugurado hoje em São Paulo!
e Viva a Verônica Tamaoki e todos os que amam o circo e lutam para que ele receba dos governantes o respeito que merece.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Palhaço e os Animais - Durovs, os bobos do povo!

Hoje, quando o circo vive sobre a ameaça dos talibãs da ecologia, nada mais oportuno do que celebrar as proezas do palhaço Durov, o primeiro artista a tratar o adestramento dos animais com base científica. Palhaço cientista? Pois é, há muito mais inteligência no picadeiro do que pensam os fundamentalistas ambientais.


Desde tempos imemoriais que o ser humano encontrou nos animais parceiros. Se por um lado uma parte da tribo a cada animal que surgia só conseguia pensar em comida, uns e outros, os mais estranhos e criativos, viam em cada bicho um semelhante. Estes eram os que passavam dias com um pedacinho de comida na mão tentando se relacionar com um leão. Dá para imaginar o escândalo que os outros faziam: - Vamos parar de palhaçada, animal! Este bicho é perigoso, vai acabar comendo a gente! - diziam os histéricos. Mas o palhaço era persistente e de tanto olhar olho no olho, fazer gestos lentos e demonstrar que estava só a fim de fazer uma amizade, não é que foi conseguindo se relacionar com a bicharada?


Primeiro foram os cachorros. Ferozes parentes das raposas acabaram se transformando em amigos fiéis sempre dispostos a uma boa brincadeira. E vieram os gatos, uns felinos pequenos mas capazes de furar os olhos dos inimigos. Bichos de muita personalidade que hoje se transformaram em bibelôs de madame, passando a vida dormindo no quentinho e pedindo cafuné...


Em alguns casos nossos antepassados adestradores devem ter ficado desapontados com o resultado. Pois não é que justo quando ele conseguiu amansar os touros, o resto da tribo teve logo a idéia de inventar o churrasco? Onde ele via um parceiro de dança, um companheiro para acrobacias e saltos, os outros só enxergavam uma picanha ao ponto...


Pode parecer que estou brincando e inventando, mas não, estou só imaginando. O que sabemos é que cada povo soube lidar com os seus animais companheiros de habitat, pois era assim que os antigos deviam se sentir quando conseguiram montar num elefante, fazer um hipopótamo entrar na roda e dar umas voltinhas. Há quem pense que tudo isso foi conseguido à custa de sofrimento e dor, pois quem já adestrou algum bichinho sabe que todo o segredo está no afeto.


E aí nós damos um pulo na história. Passamos por cima dos acrobatas que saltavam sobre touros em Creta, sobre os palhaços e seus cachorros que encantavam os filósofos gregos nos simpósios e nem paramos para dar uma olhada nas imensas menageries dos romanos que sabiam montar espetáculos com mais de 300 elefantes, 500 leões e 200 tigres. E isso muito antes dos imperadores resolverem alimentar a bicharada com cristãos.


Chegamos aos Irmãos Durov, que deram início à grande dinastia de palhaços adestradores, orgulho do povo russo desde antes da revolução soviética.


Os irmãos Vladimir e Anatoli Durov eram de família nobre mas largaram tudo para seguir a divertida vida de artistas mambembes, viajando em carroças e apresentando-se para o povo no meio das praças. Nos tempos conturbados do final do século XIX criaram fama ridicularizando os ricos e poderosos com muita verve e habilidade. Anatoli era acrobata, mágico e um versejador cômico de primeira. Seguia a tradição dos palhaços populares russos que cantando e versejando atravessavam o país levando as notícias e criticando os costumes. Vladimir sempre teve uma queda especial pelos animais. E foi com um número em que cantavam, recitavam e faziam um divertidíssimo desfile de animais que os irmãos Durov conquistaram o povo e os jovens intelectuais revolucionários. Entravam no picadeiro com porcos, pombos, cachorros, patos e galinhas e quando o povo os aplaudia de pé diziam: não somos os bobos da corte do rei, somos os bobos da corte de sua majestade o povo!


Tchecov foi um de seus mais entusiasmados fãs e escreveu seu belíssimo conto sobre o cachorro Kashtanka inspirado num episódio ocorrido com Vladimir:


Num dia muito frio, de um inverno especialmente rigoroso, o palhaço ouve um ganido angustiado vindo da rua. Quando abre a porta de casa vê um vira lata marrom coberto pela neve que lhe lança um olhar profundo e triste. Era o Kashtanka, o cachorro do marceneiro que na mais terrível miséria havia abandonado seu companheiro. Vladimir recebe o novo amigo e lhe ensina uma série de pequenos truques. O cachorro é esperto e logo se transforma num dos queridinhos do público, realizando peripécias bastante complexas e alegrando especialmente a criançada. Mas um dia, no meio do número ele para e não segue a rotina combinada. Fica de orelha em pé, estático, como que tentando ver algo mais além na platéia. E de repente Kashtanka sai correndo até as últimas filas das arquibancadas pois tinha reconhecido entre os milhares de assistentes seu antigo e querido dono, o pobre marceneiro. Vladimir chama os dois ao picadeiro e a platéia enlouquecida e emocionada não sabe se chora ou se ri e aplaude mais do que nunca esta demonstração de amor entre seres tão diversos a quem a vida havia separado de modo tão cruel.


Vladimir Durov já era um especialista em fisiologia animal quando a revolução e o prestígio que o Estado Soviético lhe dedica tornam possível a criação do seu Centro de Estudos Durov, onde desenvolve seu método de adestramento baseado nos reflexos condicionados de Sechenov e Pavlov.


A família cresce a coleção de animais também. Tendo por base o afeto e o profundo conhecimento das características psicológicas de cada um dos animais os Durov se especializam em criar números cômicos com os mais diversos animais livres no picadeiro formando um surpreendente e simbólico conjunto.


Os palhaços adestradores inventam diálogos absurdos e vão conseguindo reações dos animais a cada fala dando a perfeita ilusão de que todos naquele picadeiro estão mantendo uma conversa hilária e completamente absurda. Elefantes, focas, camelos, patos, chimpanzés e porcos atuam juntos numa prova irrefutável da incrível capacidade de compreensão das características de cada um dos animais e do afeto com que eles são tratados.

O que os mal humorados que se intitulam defensores dos animais parecem querer negar é que somos todos animais e nesse pequeno planeta devemos buscar uma vida de prazer e alegria em que possamos conviver em harmonia. Ah! Se o mundo desse ouvido aos palhaços....


Alice Viveiros de Castro é acrobata mental, ambientalista, defensora dos animais e vive na roça com suas companheiras Nena, Menina, Rebeca, Punk, Fiona e com o Gato Pipoca.

terça-feira, 7 de julho de 2009

São só algumas perguntinhas.....Palhaços 1

Volta e meia recebo uns emails de estudantes, jornalistas e outros pedindo ajuda e fazendo algumas "pequenas perguntas".... e sempre pedindo respostas urgentes, é claro.
Hoje respondi uma mensagem de uma jornalista muito simpática que queria algumas respostas muito simples sobre essa coisa muito simples que é o nariz do palhaço......
Resolvi não responder, ou melhor responder não respondendo. Mas no final de tudo gostei do tema e deu vontade de compartilhar algumas pequenas idéias e até de desenvolver melhor o tema.
quem se interessa? Agradeço à Rute pelas perguntas impossíveis mas muito provocativas.

1.Qual a origem do nariz de palhaço?

Ninguém tem a menor idéia! Os palhaços de tribos primitivas e as figuras dos mímicos dóricos na Grécia antiga (antes mesmo da época das tragédias clássicas) comumente usavam bocas e narizes exagerados em suas máscaras. O mesmo acontece com as figuras da Commedia dell'arte e as figuras cômicas dos folguedos populares.

Quando no final do século XIX começa a fazer sucesso na Europa um tipo de palhaço a que se deu o nome genérico de "Augusto" ele usava o nariz pintado de vermelho pois sua figura era um bêbado, um idiota irresponsável e muito trapalhão. Mas há grandes diferenças de artista para artista e esta é uma época muito imaginativa em que os figurinos dos palhaços brancos e dos augustos eram muito importantes e cada artista se preocupava muito com sua figura.

2. Qual o significado o nariz de palhaço – e o próprio palhaço – carrega?

O nariz do palhaço no século XX adquiriu tal força mítica que "a menor máscara do mundo". Um nariz e já temos todo um personagem.
Não tenho a menor condição de te escrever sobre o significado do palhaço. Fiz um livro inteiro falando disso e nunca cheguei a uma conclusão ..... o palhaço é o erro, é o "cordeiro de Deus" que se deixa imolar pois sabe que nada tem sentido. É aquele que leva o pé na bunda por todos nós que levamos "pés na bunda" o tempo inteiro e nem percebemos ou fazemos de conta que não percebemos. O palhaço leva o pé na bunda, o tapa na cara e ri. E segue adiante. Trupica, se enrola, leva a torta, joga torta e olha para a platéia feliz! Pois nada disso importa! E parece que ele é o único que na verdade sabe que não existem vencedores.... todos estamos de bunda no chão com as pernas pró ar.... ele sabe e procura nos ajudar a deixar essa vida mais leve...

3.A Sra. acha que o símbolo do palhaço é mais associado ao humor ou à ironia?

Onde o humor e a ironia se separam? Há palhaços para todos os gostos. Mais líricos, mais irônicos, mais sutis, alguns sem nenhuma sutileza metem o dedo no nariz, tiram a meleca e comem. E ainda lambem os beiços...
É comum nos referirmos ao "palhaço' como se ele fosse uma figura única com pequenas variações.... eu creio que há uma alma de palhaço mas que os corpos, as falas, as formas, os jeitos são inúmeros, incontáveis, inimagináveis.......

4.Fale-me um pouco sobre sua opinião quanto ao uso do nariz de palhaço em protestos e manifestações.

Sou contra! Acho a maior babaquice (desculpe o termo!) Palhaço quando faz política tem que ser muito sutil. Tem que ser muito inteligente, não pode fazer protesto que nem todo mundo. Tem que ser uma ação que critique a todos até aos que estão se manifestando, pois o palhaço sabe que tudo é um grande jogo e que mais importante pode ser uma borboleta passando.
(atenção: sou militante - agora mesmo não tenho feito outra coisa que não seja defender a Regulamentação dos animais nos Circos - e já sai de cara pintada, de camiseta preta e estive na primeira passeata gay do Brasil, mas acho que palhaço é outra história.... )

terça-feira, 16 de junho de 2009

Os Direitos Culturais como Plataforma de Sustentação da Política Nacional de Cultura

gostei tanto que resolvi copiar:

De acordo com a ONU/Unesco, são direitos culturais"

Direito à identidade e à diversidade cultural
Direito à participação na vida cultural
direito à livre criação
direito à livre fruição
direito à livre difusão

direito à livre participação nas decisões da política cultural
Direito Autoral
Direito /dever de cooperação cultural internacional

Sistema Nacional de Cultura

Agora passamos a estudar Sistema Nacional de Cultura (documento fruto de inúmeras e infindáveis discussões ...)
quem está apresentando o material 71 páginas frente e verso é a Silvana Meirelles e o Roberto Peixe.
Acredito que este documento logo logo estará disponível no site!

Discussão sobre a nova lei Rouanet

Nesse momento todos discutem e muito as mudanças da lei Rouanet especialmente em relação ao Fundo e às participações regionais e os recursos nacionais....
não é fácil...
nada fácil...

Jandira Feghali na reunião do CNPC

Acabou de chegar a nossa Secretaria Municipal de Cultura e presidente do Forum dos Secretarios Municipais de Cultura,Jandira Feghali.
A primeira pergunta que ela me fez foi sobre a questão dos animais e amanhã ela estará presente no café da manhã disponível para defender a Regulamentação dos Animais e dos Circos.
Outro grande parceiro é o Secretario de Cultura de Cuiabá, Mario Olimpio Filho, que se propos a enviar documentação para TODOS os prefeitos do Brasil sobre a importância de se apoiar os circos e os circos com animais especialmente!
beijos
estou ficando mais feliz

Diretamente da reunião Conselho Nacional de Politica Cultural

Estou escrevendo enquanto escuto a fala do Ministro Interino da Secretaria Geral da Presidência da República, Antonio Lambertucci.
explicitando parte das medidas de garantir as liberdades democráticas e o exercício da democracia ele cita a realização de 54 Conferências Nacionais e que este ano serão realizadas mais 13!
No ano que vem, em março, teremos a II Conferencia Nacional da Cultura e o Circo tem que estar presente, organizado e muito mais combativo!

O Governo tem mais de 140 Conselhos sendo que desses 54 sao considerados muito combativos e já estruturados.
vou tentar ir passando as informaçoes do CNPC passo a passo.
Tenho certeza que meus 3 leitores ficarão muito interessados.
até daqui há pouco.
AH! não percam: amanhã o Conselho Nacional de Política Cultural participará de um café da manhã com a Comissão de Educação e Cultura!!!!!

sábado, 13 de junho de 2009

Querem proibir animais nos Circos Brasileiros...


enquanto isso o Circo Nacional da Suiça, o Knie, com mais de 200 anos de história faz seu tradicional desfile pelas ruas da Basiléia.....

sábado, 6 de junho de 2009

A Arte do insólito

Este texto foi escrito especialmente para a Revista Continente.
Mas acho que ainda vale republicá-lo:
O circo é a arte do insólito, do inesperado, do surpreendente

A arte do insólito

O circo é a arte do insólito, do inesperado, do surpreendente. Gente que faz coisas inimagináveis, de deixar outras gentes de boca aberta e com o coração na boca.

O circo é a arte de realizar proezas, enfrentar riscos, colocar-se à prova apenas pelo prazer de surpreender e encantar o público.

O circo é a arte do diverso. Tudo cabe debaixo de uma lona, tudo pode entrar na roda mágica do picadeiro.

A história do circo é a longa trajetória dos que se esmeram em dominar a técnica de fazer estranhos movimentos, chegando ao cúmulo de arriscar a própria vida apenas para entreter seus semelhantes e terem a suprema satisfação de vencerem a si mesmo.

Os primeiros circenses eram exímios caçadores, ágeis, fortes, de grande pontaria e de muito bom humor. Gosto de imaginar uma tribo pré-histórica atirando-se à caça do almejado bizão. Os trogloditas organizados fecham o cerco ao animal. Primeiro chegam os mais ágeis corredores que acuam o bicho, depois vem os mais fortes provocando e enfrentando a fera de frente, deixando o animal cansado e pronto para ser atingido pelas toscas lanças dos melhores lanceiros do grupo. Pronto, agora é a hora, todos olham para o barbudo dono da melhor pontaria, aquele que sabe tudo de lanças e como melhor cravá-la na garganta do futuro alimento. Mas eis que incentivado pelos olhares ansiosos de seus companheiros ele, subitamente, começa a girar a lança de uma mão para a outra, primeiro devagar, depois com rapidez e leveza, hipnotizando a todos. A todos menos ao bizão, que aproveita a confusão e foge…

Ou talvez, quem sabe, o esperto malabarista tenha se contido, acertado o bicho bem no meio dos olhos e voltado para a caverna carregado em triunfo. Mais tarde, depois do lauto banquete, sentado em roda, aquecendo-se ao fogo, enquanto a tribo rememora a caçada nosso herói se põe a realizar proezas com a lança. Passa-a de uma mão para a outra, atira-a para o alto e pega-a por trás. Gira-a em movimentos rápidos e surpreendentes dando à lança uma nova função, não mais arma mortal, mas objeto de puro prazer e encantamento.

As primeiras proezas circenses de que temos notícias estão diretamente ligadas à caça aos touros. Para nossos antepassados mais remotos ir á caça era a mais importante atividade do grupo, mistura de festa e ato de profunda fé e religiosidade. Os achados arqueológicos de Catal Huyuk, antiquíssima cidade da região da Anatólia, na Turquia, já demonstram a forte presença da arte de dominar um touro e sobre ele realizar saltos e acrobacias diversas. Algo que já era admirável há mais de 8.000 anos.

As primeiras imagens de acrobatas foram encontradas em Knossos em Creta e tem mais de 4.500 anos. Belas jovens realizam ousados e arriscados movimentos sobre um imenso touro que é contido por um rapaz forte e musculoso. Na China, em Wuqiao, pinturas numa pedra, da mesma época, mostram o lendário batalhão de cavaleiros acrobatas que conseguiram derrotar o inimigo surpreendendo-o com seus saltos e inacreditáveis peripécias no lombo dos cavalos. Lá pelo ano 3.000 A.C as pirâmides do Egito já eram decoradas com figuras de malabaristas, equilibristas e contorcionistas.

Artistas da proeza sempre existiram quer se apresentassem nas ruas, feiras, palácios ou sobre improvisados tablados. Para os antigos toda expressão que aliava domínio técnico, apuro na execução e harmonia nos movimentos era admirada e reconhecida como arte.

A divisão entre arte erudita e arte popular, que sempre existiu mas se fortalece nos últimos séculos da idade média como forma de garantir apoio da igreja às expressões culturais mais bem comportadas, é que vai colocar as artes do corpo em um lugar de discriminação e desimportância.

Reis e Papas tentam regulamentar as expressões artísticas separando as que deveriam ser apoiadas e incentivadas das que não mereciam nenhuma consideração e eram apenas expressão dos baixos instintos, devendo ser ignoradas ou proibidas. Em 1274, Afonso X, rei de Castela se dá ao trabalho de classificar os jograis* em 6 diferentes tipos, separando o jogral que tangia instrumentos, contava novas, recitava e cantava versos, portando-se com dignidade, dos bufões e trejeitadores, mímicos que só serviam para divertir a plebe com grosserias e palhaçadas.

A nobreza esmerava-se em patrocinar seus artistas preferidos e os reis passam a instituir as Reais Companhias de dramas, comédias e música, base dos Teatros, Operas e Corpos de Baile Nacionais. Os artistas dos teatros de feira, funâmbulos que se equilibravam atravessando cordas em grande altura, amestradores de animais, saltadores, malabaristas, mímicos, mágicos, bonequeiros e outros que tais acabam ficando de fora do mundo da Arte com A maiúsculo, não recebendo verbas oficias nem ganhando o apoio da Igreja e do Estado. Mas o público nunca os abandonou e a nobreza e o clero sempre frequentaram suas arquibancadas com prazer e alegria… só não davam dinheiro nem valor….(até hoje, até hoje….. )

O Circo casa de espetáculo, espaço redondo onde se exibem números diversos de proezas e fantasia surge na segunda metade do século XVII. Franceses e britânicos brigam pela criação do circo moderno, cada um puxando para si a primazia de ter reunido num único espaço os diversos números da arte da equitação e os mais diferentes exercícios de pericia e habilidades.

Em 1776 o sargento inglês Philip Astley faz um sucesso retumbante com sua casa de espetáculo, um picadeiro onde montava grandes pantomimas com números de adestramento de cavalos, exibições de acrobacias equestres e mais equilibristas, aramistas, saltadores e malabaristas.

O Circo nasce como espaço onde tudo pode ser exibido desde que seja capaz de surpreender, emocionar ou impactar o público. Teatro, música, dança, cenários retumbantes, figurinos maravilhosos, todos os meios eram válidos para encantar a audiência.

No Brasil o primeiro palhaço veio nas caravelas com Pedro Álvares Cabral. Diogo Dias era seu nome e já havia trabalhado em comédias e arremedilhos antes de se aventurar nas travessias de mares nunca d’antes navegados. Ao ver os índios dançando na outra margem do rio, logo após a primeira missa, Diogo passou-se para o outro lado e começou a dar saltos e piruetas e a rir com os da terra que logo se encantaram e com ele formaram uma grande roda.

Circenses cheios de energia e coragem apresentaram-se nas regiões das Minas Gerais já nos idos de 1720, deixando desesperado o bispo D. Frei Antonio de Guadalupe que se queixava ao Santo Ofício dos ciganos que infestavam Vila Rica e outras regiões com suas comédias e óperas imorais.

O século XIX é o século do circo. Companhias atravessam os continentes e pouco a pouco vão criando dinastias locais de grandes artistas. É assim no Brasil onde as famílias circenses chegam, criam raízes e abrasileram-se… Chiarinis, Seyssel, François, Stankowichs, Stevanowichs, Silvas, Temperanis, Olimechas, Manges e tantos outros são a base do circo brasileiro. Um circo que sempre soube ir onde o povo está.

Hoje no Brasil calcula-se que mais de 1500 circos estejam em atividade entretendo uma platéia de mais de 20.000.000 milhõees de espectadores por ano. Além dos circos itinerantes que mantém viva a tradição da lona temos mais de 50 escolas e projetos sociais que ensinam as artes circenses e são o berço de novas trupes e companhias.

Tradicionais, contemporâneos, clássicos ou modernos não importa muito o estilo de cada um. Cada época se emociona ou se surpreende do seu jeito particular e próprio. Mas o fato é que homens e mulheres do século XXI temos muito em comum com nossos antepassados, tal qual nossos avós das cavernas sabemos admirar gente capaz de realizar com graça e perícia coisas que nós nem sonhávamos imaginar.

Nota:

Jogral, vem do latim jocus, brincadeira, diversão. Mesma origem de lúdico. O termo era usado em toda a idade média e renascimento para os artistas de diferentes habilidades que percorriam os castelos tocando, cantando e realizando pequenas proezas. É a origem de juggler e jongleur, malabarista em inglês e francês respectivamente.


Alice Viveiros de Castro é acrobata mental, ex-vedete de Teatro de Revista, foi contra-mestra no Pastoril de Luiz Mendonça e atualmente dirige o espetáculo Vida de Artista com a trupe do projeto Crescer e Viver do Rio de Janeiro. É autora do livro O Elogio da Bobagem – palhaços no Brasil e no mundo, editado pela Família Bastos Editora com o patrocínio da Petrobras.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Primeiro do que tudo segundo do que nada...

Essa é minha primeira experiência como blogueira.
quero ter um espaço para fazer meus exercícios de acrobacia mental e quem sabe não acabo escrevendo mais e deixando a preguiça de lado.
Tem tanta coisa enchendo minha cabeça, espero que o blog funcione como uma pensadeira.
sim, eu leio Harry Potter e Alexandre Dumas e já li toda a Agatha Christie...
No momento quero apenas escrever em letras garrafais:
FORA! FALSOS DEFENSORES DOS ANIMAIS
FORA! NEONAZISTAS ECOLOGICOS
FORA! ECO-TALIBÃS
FORA FUNDAMENTALISTAS MENTIROSOS QUE USAM A COMPAIXÃO COMO MOTIVAÇÃO PARA DISSEMINAR O ÓDIO.
E quanto aos que são "filosoficamente" contrários aos animais nos circos peço que fiquem longe de mim por um bom tempo.... de cima do muro vocês estão deixando os idiotas assumirem a responsabilidade de proteger os animais e estão legitimando este bando de imbecis como "ambientalistas"